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Post: Violência nas Escolas
Impossível ficarmos inertes diante da morte da professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, ocorrida na última segunda-feira (27), em São Paulo. Ela veio a óbito após supostamente ter sido atacada por um aluno de 13 anos, que declarou ter visto nela “um alvo fácil”. Afinal, seu objetivo seria “matar alguém” com essa ação. Mas deixo a investigação da motivação do crime para os órgãos responsáveis.
Nossos questionamentos talvez perpassam outros lugares… Por que na escola? Por que a professora Elisabeth? Por que uma faca? Por que escolher matar pessoas?
Eu mudaria todas essas perguntas para: como esse jovem chegou nesse dia?
A violência e a externalização dela não acontecem repentinamente. Surgem, crescem, ganham corpo, espaço, força e são alimentadas até tornarem-se maior que o próprio indivíduo ao longo do tempo.
A agressividade é parte do desenvolvimento humano. Desde muito cedo, aprendemos que o descontrole emocional vem à tona com a raiva, a birra, o choro compulsivo, os ataques de fúria, comuns às crianças pequenas, por exemplo, que ainda não possuem a formação psíquica necessária para uma regulação emocional “adequada” socialmente.
Ao nos desenvolvermos, vamos estruturando nossa psique e ganhando maturidade e mecanismos de defesa que nos permitem a elaboração das frustrações e adversidades a que somos expostos. Aprendemos essa regulação vivendo, percebendo, observando, experimentando que a vida é feita de escolhas, renúncias, perdas, ganhos, satisfações, desilusões, amizades, desafetos, reparações e exposições. Mas tudo isso não lhe parece “normal”? Em especial enquanto adultos, quando olhamos para o passado, nossas experiências e vivências, e compreendemos que é esse realmente o caminho?
Mas, então, o que nos difere dessa nova geração? A capacidade do diálogo, a disponibilidade para a convivência e, consequentemente, a possibilidade de tolerar frustrações!
Vemos uma geração ultraconectada, mas que não sabe conversar! Não sabe conviver! Está restrita a seus celulares e computadores de última geração e se conecta com o mundo apenas pelos aparelhos, sem a convivência real, o olho no olho, as conversas que nos fazem rir, chorar, repensar, que nos expõem e também nos preparam para os enfrentamentos futuros da vida real.
Se não convivo, não valorizo o outro, não o percebo, não o “enxergo” como alguém que merece atenção, amor, entrega, respeito… E, assim, não me importo com quem é, o que faz, sente, pensa, valoriza…É apenas alguém que está lá (bem distante de mim) fora da minha vida (tecnológica).
E em qual lugar essa convivência acontece obrigatoriamente? NA ESCOLA!
Embora tenhamos sofrido muitas alterações e modernizações ao longo dos anos, o espaço escolar permanece como um ambiente rico na convivência social, mas isolado nessa prática. Para muitos jovens, a escola é o único lugar de efetiva convivência social, pois nos demais locais estão “protegidos” por paredes, portas ou silêncios, em interações isoladas com suas telas. E essa situação é extremamente grave e preocupante!
Uma criança ou um jovem que cresce sem a convivência comum a uma família (refeições à mesa, trocas diárias sobre o cotidiano, conversas orientativas, limites de convivência, responsabilidades familiares coletivas e partilhadas, etc.) ou ainda não partilha de uma convivência grupal qualquer (comunidades, grupos de amigos, etc.), cresce sem a possibilidade de se experimentar como um ser social, observando e vivendo as diferenças, facilidades e dificuldades no ambiente mais seguro emocionalmente falando: o seu seio familiar. Neste lugar, embora haja repreensões e desacordos, há um amor incondicional que conseguirá equilibrar as frustrações e os medos, proporcionando a força de enfrentamento aos desafios extrafamiliares, os sociais, que sabemos ser os maiores.
Desta forma, voltamos os olhares para a escola, onde a convivência social acontece obrigatoriamente com crianças e jovens em desenvolvimento biopsicossocial, e onde os enfrentamentos de conflitos tomam uma proporção emocional, por vezes, insuportável.
Será que a responsabilidade é única e exclusiva da escola? Além de pensar na melhor forma de transmitir conteúdos pedagógicos obrigatórios de maneira atrativa aos alunos; observar questões físicas e emocionais de cada estudante diariamente que possam prejudicar seu desenvolvimento e desempenho global; orientá-los em atitudes e falas inadequadas nas relações diárias com colegas e funcionários; proporcionar espaço de construção de conhecimentos significativos; reflexões acerca de valores e conceitos; observá-los enquanto sujeitos e trocar informações com a família, visando as melhores ações para cada aluno da comunidade escolar, seria papel da escola única e exclusivamente dar conta de inseri-los a um convívio social adequado e emocionalmente saudável?
Não, não é! O amor incondicional é algo do lar e é ele, junto aos limites impostos desde os primeiros ensinamentos, combinado aos convívios sociais adequados, que trarão ao seu(a) filho(a) a força emocional dos enfrentamentos comuns à vida.
Quando um jovem escolhe pensar na morte de alguém significa que algo dentro de si já morreu há bastante tempo. Ou sequer nasceu.
Nos preocupamos muito com os perigos sociais (os externos). Minha sugestão é que voltemos nosso olhar para a nossa casa, a nossa família, os nossos filhos. Como está sendo a nossa relação, nosso convívio familiar? Como estabelecemos nossos diálogos? Como meu(a) filho(a) reage aos limites impostos? Como retomo cada situação difícil? Como vivemos as reparações? Enfim, como vivemos a nossa microssociedade em nossa casa?
Não há receita, não há uma única forma, não há manual! Há disposição, coragem, trabalho, insistência, vigília, bom senso, diálogo, amor e desejo de educar e reeducar e reeducar e reeducar…na nossa visão, com e para o coração
Lorisleine Perim Nagata
Psicóloga
CRP06/77183